A poupança já acabou

No meu post anterior eu comecei a falar de bolha imobiliária. E nesse farei uma breve explanação gráfica do porque de uma das minhas preocupações.

Mas como sou um péssimo contador de histórias, vou começar pelo final. E o final é esse gráfico aqui:

imobvsdirecionamento

O gráfico não é lá muito intuitivo, e por isso mesmo vou ter de gastar algum latim.

Tudo começa com a Poupança, é claro. A Caderneta de Poupança é o investimento mais tradicional do Brasil, muito por conta da sua simplicidade folclórica, e menos por conta de suas qualidades reais. Tanto a “captação” de Cadernetas de Poupança como os “direcionamentos” são definidos em lei e em inúmeros outros dispositivos legais. Mas para efeito dessa discussão, o grosso que se precisa saber é o seguinte: os valores captados (depósitos) em Poupança tem direcionamentos obrigatórios, ou seja, devem ser aplicados de uma maneira bem específica, a saber:

  • 65% em financiamentos imobiliários
  • 20% em encaixe obrigatório
  • 10% em encaixe obrigatório adicional

Para quem não acompanhou a conta, isso dá 95% em direcionamentos obrigatórios, sobrando só 5% para os bancos aprontarem. “Encaixe obrigatório” aqui significa compulsório, ou seja, os valores que o Banco Central exige que os demais bancos mantenham parado em vez de emprestar.

Ou seja, para cada R$ 1 depositado em Poupança, R$ 0,65 devem ser usados em financiamento imobiliário, R$ 0,30 tem de ficar parados (e ainda assim são um ótimo negócio para os bancos) e somente R$ 0,05 podem ser re-emprestados em outros linhas.

Esses 65% tem regras próprias, no entanto. Os “financiamentos imobiliários” devem ter a seguinte composição:

  • 80% em financiamentos do SFH
  • 20% em financiamentos à taxas de mercado

SFH aqui significa o Sistema Financeiro da Habitação, o conjunto legal de incentivo à moradia própria, geralmente à taxas subsidiadas e com regras de valores máximos de parcelas, imóvel, renda, etc. “À Mercado” se referem a financiamentos imobiliários que não seguem essas regras, em especial na questão das taxas subsidiadas.

Bom… Quando falamos de financiamento imobiliário, nos referimos explicitamente às esses 65% de toda Poupança do Brasil. De maneira geral, os bancos brasileiros só financiam imóveis aos muito ricos, de forma que quase todo financiamento imobiliário que alcançam os pobres mortais no Brasil vem dos direcionamentos obrigatórios da Poupança, sejam eles os 80% de 65% (barato, subsidiado) ou os 20% de 65% (à mercado, mais caro).

Até aí, tranquilo. Mas estamos falando de quanto, exatamente? Notícias sobre aumentos ou diminuições nos saldos de Poupança são lugar comum no mercado financeiro. Mas para ter uma noção melhor, vamos ilustrar os saldos da Poupança com os dados maravilhosamente agrupados pelo Banco Central:

sbpe-fontes

Nesse gráfico os anos de 2001 a 2008 estão agrupados, e de Janeiro/2009 para frente os saldos são apresentados mensalmente. “Poupança” aqui se refere aos saldos de Cadernetas de Poupança. “Subsidiado” se referem a Repasses, Refinanciamentos, Fundos e Programas Sociais. “LH,CHe,DII cap” se referem a Letras Hipotecárias, Cédulas Hipotecárias emitidas e Depósitos Interfinanceiros Imobiliários captados.

Abra o gráfico, olhe-o com calma. Os valores da Poupança, em verde, apresentam clara subida, porém num ritmo visualmente constante. O último valor da série, em Janeiro/2012, o saldo de todas as Cadernetas de Poupança brasileiras estão informadas em R$ 332.039.923.000,00 (R$ 332 bilhões para os preguiçosos). O saldo de todas as fontes que compõe o SBPE estão informadas em R$ 452.506.629.000,00 na mesma data.

Bom, nós vimos antes que 95% desses valores tem direcionamentos obrigatórios. O problema agora é ter contra o que comparar esses valores. Embora o noticiário econômico seja pródigo em noticiar o saldo da Poupança mês a mês, o mesmo não pode ser dito sobre os saldos do SFH: as notícias falam muito dos valores de novas contratações. Mas os direcionamentos da Poupança são calculados a partir dos saldos, e os valores de captação nada nos dizem a respeito da viabilidade (ou não) da Poupança como funding imobiliário. E, novamente, o Banco Central nos fornece a informação concentrada numa série temporal:
sbpt-usos

Comentários amenos: Os detalhamentos das legendas podem ser vistos direto na fonte dos dados. E o valor total do último item da série é R$ 406.848.268.000,00. Uns 90% do valor do total do SBPE.

O importante, o grande pulo do gato é que nessa série temporal aparecem os valores em financiamentos imobiliários no Brasil, tanto aqueles amparados na regra do SFH (em verde), como aqueles ditos às taxas de mercado (vermelho).

Agora é questão de separar as informações interessantes e colocar num único gráfico. E o que eu fiz foi o seguinte:

  • os financiamentos do SFH, em azul
  • os financiamentos às regras/taxas de mercado, em vermelho
  • o valor de 65% do saldo de Poupança, menos as parcelas anteriores

O último item merece explicação. Eu queria um gráfico que demonstrasse o quanto as parcelas de financiamento do SFH/mercado “impactam” o direcionamento obrigatório. Para tanto, montei um gráfico de áreas empilhadas no LibreOffice. Financiamentos SFH e financiamentos à mercado são parcelas que se somam, simplesmente. Mas os 65% da Poupança são um “limite”, e portanto apenas fiz subtrair as duas parcelas, de forma que o resíduo, já somado, desenhasse justamente o limite.

O problema é que o gráfico ainda precisou de um último ajuste, que foi tornar a série “65% Poupança” semitransparente. E para a comodidade, eis o mesmo gráfico:
imobvsdirecionamento

No começo do gráfico os valores e financiamentos aparecem “abaixo” do limite de 65%, como era de se esperar. Mas com o passar do tempo os financiamentos sobem de saldo num ritmo maior que o saldo das Poupanças. Novamente, nenhuma novidade para quem acompanha o noticiário.

O interessante ocorre em Abril/2011. Nesse mês, os saldos de financiamentos não só “tocam” o limite de 65% da Poupança como o ultrapassam. Não só isso. A partir desse mês, os saldos continuam a subir acima da Poupança, “manchando” a minha série “À Mercado” com um vermelho mais claro.

Essa mancha representa o excesso de financiamentos imobiliários para além do direcionamento obrigatório dos saldos de Poupança.

Ou de outra forma, mas com todas as palavras: A Caderneta de Poupança como funding imobiliário, pelas regras atuais, já está esgotada a algum tempo.

Essa afirmação é espantosa (até para mim), e deve ser tomada com cuidado (eu posso ter errado alguma conta). Mas se excetuando essa última, infelizmente sou o portador dessa má notícia.

“Como então o mundo imobiliário não ruiu em chamas”, dada essa constatação?

Quanto a esse óbvio e necessário questionamento, só posso dizer que a escolha da ordem das séries no último gráfico é intencional. Ainda usando a analogia visual da “mancha”, note que o excesso de financiamentos só “empurrou” os financiamentos “à mercado” para além do limite de 65% da Poupança. Esses financiamentos já não eram lá baratos, e eles perderem o funding barato não causaria tanta comoção.

Alguma alteração mais grave ocorrerá, imagino, quando a faixa de financiamentos do SFH ultrapassar esse limite.

Os financiamentos “à mercado” seguem regras próprias e em condições de mercado. Se utilizam ou não a Poupança como funding é uma mera questão de usar um dinheiro barato e disponível. Os bancos são obrigados a fazer financiamentos imobiliários com 65% do saldo de Poupança, e desses 65%, 20% podem ser à mercado. E os bancos o fazem, claro, emprestado mais caro grandes somas que obtêm muito barato.

Mas os financiamentos do SFH só existem por causa do funding barato da Poupança. Uma vez que essa fonte de financiamento se esgote, esse será o dia que o financiamento barato desaparecerá.

O financiamento barato desaparecerá. O financiamento caro, “à mercado”, muito provavelmente continuará.

O problema, daí, é que financiamento caro não raro significa financiamento nenhum. Mas isso é assunto para outro dia.

Férias, passado e futurologia da bolha imobiliária

Por esses tempos eu estou de férias. E entediado. Me pus a limpar a caixa postal de email. Limpar mesmo. A ponto de sobrar só 6 emails.

E ao fazer isso me deparo com emails trocados com conhecidos a respeito de famigerada bolha imobiliária brasileira. Não é de hoje que eu interfiro na vida financeira e profissional de amigos e conhecidos, e essa troca de emails em particular era sobre a pressa para que amigos acelerassem seus planos imobiliários que dependessem de financiamento pelo SFH. Meu medo (então) era que a falta de crédito barato causasse uma mini-bolha imobiliária que secasse o todo o crédito imobiliário (na pior das hipóteses) ou que que fizesse sobrar apenas crédito imobiliário caro, o que na prática dava na mesma.

Pois bem. Eis que hoje um Google Alerts me traz notícias relacionadas. Uma coisa leva a outra e eis que eu finalmente paro para fazer alguns estudos que eu estava devendo a esses amigos.

A discussão sobre bolha imobiliária no Brasil é longa, cheia de meandros e complicações. A começar pela definição do que é “bolha”.

Vale então eu mencionar as coisas que eu acredito, talvez para facilitar a discussão caso (pretensão!) haja alguma.

1. O preço dos imóveis no Brasil ficou estagnado décadas, por pura falta de crédito imobiliário. Não ter uma moeda estável era outro impeditivo grave. A falta de crédito terá o efeito inverso.

2. Não espero uma bolha à lá norte-americana, que arrasta o sistema financeiro numa série dequebradeiras. Uma série de quebradeiras bem persistente, aliás.

3. Mas eu temo a Encol. Algumas falências dessas causariam (plural) pânico creditício o suficiente para fazer uma bela baderna no setor imobiliário como um todo.

4. Crises econômicas tem causas complexas que se acumulam sobre longos períodos de tempo. Junte isso à curta memória humana para as crises e temos todo o necessário para tempestades perfeitas.

5. Dessa vez não será diferente. As crises não são idênticas entre si, por certo, mas sua frequência e persistência ao longo dos séculos o são.

Acabei colocando muitos links acima, e até sugiro a leitura detida deles se algum leitor meu tiver a paciência.

Na sequência, o primeiro dos meus estudos, e justamente o de resultado mais surpreendente.

Uma odisséia ao passado

Tudo começou com um pedido simples, e depois de vários percalços, uma revelação de cunho quase espiritual. Mas um link de cada vez.

Um bom amigo me pediu umas fotos de um fato inusitado: um alagamento de subterrâneo de um bloco comercial aqui em Brasília. Como sou muito cuidadoso com os meus backups, bem eu sabia que tinha as fotos, mas não tinha noção exata de qual ano tinha sido o ocorrido. Costumo fazer os meus backups semestralmente, gerando uma certa quantidade de CDs (então) e DVDs (atualmente), discos esses guardados com todo cuidado em embalagens escuras.

Como estava com tempo, comecei a dar uma olhada na ordem cronológica, começando por um tempo em que nem morava em Brasília. Primeira parada, um CD de 31/07/1999. Dei uma olhada no CD, fisicamente perfeito, e coloquei na leitora. O computador imediatamente abre uma janela apropriadamente nomeada LostWorld. Nossa, nem lembrava que chamava os meus backups assim…

E o que o eu de 1999 me preocupava em preservar? A instalação do AfterDark, ícones animados de mouse, a árvore instalada do ICQ (lembra? oh-ou!) e do Lotus Organize (ainda tenho saudades), uma incipiente coleção de AVIs (4, nenhum maior que 400 Kb), alguns jogos, instalação do GetRight (já volto nele), algumas imagens incluindo GIFs animados, bandeiras de países, papéis de parede do Digital Blasphemy e texturas (não pergunte).

A pasta de documentos tinha muito mais coisas do escritório do meu pai que minhas, mas na pasta de documentos próprios, um trabalho de Inglês Instrumental de 21/06/1998 (matéria que na UnB eu só consegui completar tem… 3 semanas), uma pasta seriamente chamada Cemitério e uma BestDocs, de onde eu tiro que a minha propensão de salvar matérias de Internet pelo seu nome vem de longe, muito longe. Um tal de “Procura-se profissional. Pelo amor de Deus.” começa assim: “Faltam profissionais de informática e o quadro provavelmente continuará assim por algum tempo.”. É, né?

MIDs! Eu colecionava MIDs! E MODs! Que velharia… que eu tanto adorava. E até, com grata surpresa, vejo que ambos funcionam perfeitamente hoje. Pastas essas copiadas e então ao som de MID\Conhecidas\STARWAY.MID, continuei fuçando esse meu passado digitalmente preservado…

Antivirus, ferramentas de controle remoto, Winzip, ARJ, manipuladores de registro, OCR e clientes de FTPs. O básico do básico do nerd pré ano 2000.

O próximo CD de backup é datado de Março/2001, um mês antes da minha vinda à Brasília. Muito originalmente chamado de LostWorld2. É o backup de adeus de um bom Pentium, montado no chassi de um 286 em torre, com o HD sustentado no lugar por um chumaço de sacolas plásticas de supermercado e uma gravadora de CD trazida do Japão com uma placa SCSI que não cabia no chassi (por óbvias razões), sem falar na BIOS da dita placa ter como default as opções em japonês. Ah, memórias de limas e exploração cega de menus…

Aqui já começa outro padrão mantido até os tempos atuais: a separação entre programas e dados. Nos programas, drivers de placas de rede, CLIPPER, primeiros cygwin baixados na unha e na esperança, IE 5.5, fontes (que nunca parei de colecionar), PHP e o driver do ZipDrive (que descanse em paz). Nos dados, umas poucas fotos digitalizadas, ainda eu magro e de cabelo curto, mais arquivos com trabalhos da faculdade particular. Oh… uma pasta desorganizada… Devia ser tudo o que eu tinha no Desktop no momento do backup. Outro (mal) hábito preservado.

Nessa pasta, algumas fotos de hackers e phreaks da cena de antes e então, hoje na maioria casados e sem filhos (e alguns ainda usando ICQs de 6 dígitos). Doidos de pedra. Fora isso documentos pela metade, ARJs aleatórios e outras quinquilharias do tempo em que se começava a esquecer as taxas transmissão medidas em bauds. Copiei os ARJs para olhar depois e continuei caçando as fotos pedidas pelo meu amigo.

Continuei fuçando os CDs e DVDs até achar tais fotos do alagamento. Encaminhei e rapidamente recebi um agradecimento do tal amigo, enviado diretamente do celular devidamente equipado com 3G. Carai… fotos tiradas de um caríssimo e raríssimo celular que tivesse câmera nos idos de 2004, enviados poucos anos depois para um celular com muito mais velocidade de acesso à Internet do que se quer podíamos almejar no tempo dos backups que eu tinha acabado de mexer.

A história poderia ter acabado ai, se não fosse os tais ARJs puxados do backup antes. Ainda com tempo livre, uns dias depois, me peguei pensando na quantidade de espanto e xingamentos que eu poderia gerar mandando as tais fotos aos tais delinquentes de então. Separei algumas, mandei algumas, e fui abrir os arquivos compactados atrás de outras prováveis. Mais memórias esquecidas entre tantas, a cada arquivo aberto, até que ficou um último, inacessível por conta de senha.

Um ARJ com uma senha que eu não lembrava (também… 10 anos depois), que não era uma das minhas senhas padrão. Sabia que era “alguma coisa boa”, porque tenho noção que era uma senha diferente que eu tinha aqui colocado. Então, inspirado, fui atrás de ferramentas de crack que tanto já fui solicitado para usar em arquivos de outrem, com estrondoso sucesso…

… e que estrito insucesso me deparei. @#$%! Como assim? Uma ferramenta, duas, três, dez… várias cópias da mesma ou ferramentas novinhas, nada conseguiu sequer raspar as primeiras letras.

Tão, tão perto, e assim tão, tão longe. E o pior é que Compactador de Arquivos do GNOME consegue até listar os arquivos, então eu SEI o que tem dentro do ARJ, mas não consigo extrair. AHHHHHHhhhhhhhh!!!

Pois bem, caçando ferramentas cada vez mais velhas, aparece uma alternativa inusitada, que consegue descobrir a senha de arquivos ARJ se e você tiver um dos arquivos presentes no ARJ “por fora”. Pois bem, navegando pela árvore de arquivos do ARJ, encontrei pastas de arquivos baixados, de sites pré-2000 ainda. Sem chance de lembrar os nomes do site, mas pacientemente fui usando o Google Imagens para ver se conseguia rastrear a mesma imagem, esperançosamente nos mesmos sites.

Uma, duas, três, dez quinze pesquisas, algumas dezenas de abas abertas (ei… lembra quando não existiam abas? enfim…). Várias imagens candidatas, que estimularam ainda neurônios que eu julga pra lá de aposentados. Lentamente o número de abas abertas foi diminuindo, em monótona contagem regressiva até o fracasso e … PIMBA! Não uma, mas três imagens, do mesmo e arcaico site!

Um site sem uma gota de JS, todo estático e sem frames, orgulhosamente estampado suas últimas datas de atualização manualmente realizadas em idos de 1998! Em pleno 2011, um feito e tanto!

Mas tive de me conter… uma coisa é o Google mostrar a imagem em primeiro plano, outra coisa bem diferente é o site ainda ter o mesmo arquivo original. Nesse ponto, eu precisava do exatoarquivo que existia dentro do ARJ, de forma que eu não queria me arriscar com a cópia reduzida. Cliquei no X da pesada janela em DHTML e esperei. Esperei e esperei e esperei, até quem uns poucos segundos viraram muitos, meio que temendo a triste constatação de ser um buffer velho de uma página inexistente, meio que esperançoso por o Google não preservar sites inacessíveis. E lento como foi, apareceu.

Trombetas no céu! Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Lentamente naveguei até a página correta e baixei o arquivo. Aqui já deveria eu ter notado uma coisa impressionante, mas estava por demais pilhado em abrir o maldito ARJ com senha para me dar conta.

Passo seguinte, conseguir o tal utilitário milagroso. Novas pesquisas e o Google, cada vez mais calibrado pelas minhas consultas ia me levando a páginas que seriam mofadas se padecessem do apodrecimento da matéria. Até me levar ao endereço final da minha pesquisa:http://www.compression.dk/cmview/View?id=10005. Outra página que orgulhosamente estampa o seu último momento de atualização manual.

Nesse link achei o tal utilitário (SOLVEPWD, para os curiosos), mas por precaução quis baixar outro. Dois Ctrl+Clicks e… Maldição de JS OpenWindow. Nossa… como essa maldita tradição é velha! 13/07/2003. Reabro as abas e vou, pacientemente clicar “simples” nos dois links. O primeiro abre na hora e inicia o download. O segundo, bem… não funciona tão bem assim, me devolvendo uma mensagem mal formatada de “downloads simultâneos” e avisando de banimento de IP se insistisse mais.

Ora bolas… JS arcaico em site arcaico, dando pala a essa altura do campeonato. Mas enfim eu já tinha uma das ferramentas que queria e me mexi para movimentar os arquivos para um pendrive, e de lá para o notebook com Windows (essas ferramentas lammers/crackers, óbvio, só rodavam em DOS/Windows… oh, mundo da popularidade relativa). Nesse meio tempo ainda falei no Pidgin com conhecidos para só depois começar a movimentação de arquivos.

E eis que ao caçar o arquivo baixado o vejo com um .part, que é uma indicação de download não concluído pelo Firefox. Olhei para aquilo, piscando os olhos sem entender… É uma ferramenta mínima, de 4 Kb apenas. O download não completo só podia significar que o site todo estava com problema… Tsc, em cima do teste, teria de caçar outra versão. Mas, nesse momento, o .part some e o arquivo com nome correto se materializa. Ah… Momento Feliz!

Mas… como demorou. E ainda assim, consciente que o site antiquado funciona, volto a ele (bendito Ctrl+Shit+T) e me ponho a baixar outra ferramenta. Porém, dessa vez abro a janela de download para ver o comportamento do site (nerd eu, sim, eu sei).

Oh… o arquivo está baixando, sim, devagar mas está. 17 minutos para baixar 600 Kb. Ok… para não dar duas viagens no pendrive, resolvo esperar, e vou pegar um copo de refrigerante na geladeira. Já na cozinha, bebendo, me pego pensando em como é engraçado, a velocidade arcaica num site arcaico. Bem como nos velhos tempos, punha para baixar algo e saía do micro para fazer outra coisa. Provavelmente um truque configurado no Apache do servidor ou …

Congelo, arrepios subindo pela espinha frente a constatação óbvia, e ainda assim, ainda assim…

Largo o copo pela metade e volto ao micro, para ver a janela de download, ainda aberta. Uma rápida conta mental me revela que a estimativa de tempo está errada. De fato, vai levar muitomais de 17 minutos para baixar os 600 Kb, e ainda assim, vem o tal de arquivo, byte a byte, numa velocidade zen budista.

Será? É um site velho, com certeza. TODO VELHO. Pode a Internet ter pontos tão resilientes assim? A ponto de um site velho, abandonado a própria sorte pelo seu criador, fora do GeoCities mas hosperado em algum provedor proviciano perdido no mundo sobreviver a passagem das eras?

Pode um máquina velha, clocando pacientemente até o fim dos tempos, alimentada em links antiquados de tão lentos, mas seguramente lá, enviando dados a requisições enquanto existir IPV4?

Sim, existem boatos de servidores Slackwares ou mesmo SCO Linux, que dão zero manutenção a ponto de ser esquecidos como entidades físicas em sim, existindo apenas “lá”, seja onde for, servindo e funcionando como foram programadas para ser, somente descobertas através da busca física de seus cabos coaxiais a muito soterrados em poeira.

Ainda digerindo a revelação de tamanho feito, me peguei pensando no site anterior, de onde consegui reaver a imagem base da quebra da senha. Novamente reabrindo abas já a um tanto fechadas, voltei a ele. Lenta e pacientemente ele veio. E eu, agora com cuidado venerado, conferi as datas de atualização impressas nas páginas. Não satisfeito, mas com redobrado cuidado, cutuquei registros DNS e WHOIS, apenas para confirmar aquilo que a intuição demorou a captar.

Como um círculo completo, fechado em si mesmo, voltei, por causa da observação de um backup velho a um dos primeiros sites que eu naveguei em vida digital. Não era uma cópia da WayBackMachine ou uma versão moderna, mas efetiva e realmente o mesmo site, intocado desde então e mesmo assim, lá, firme e forte, o mesmo, até o último byte.

Lá e de Volta Outra Vez

Literalmente.

Luis Roberto Barroso no STF em 05/05/2011

Uma transcrição da eloquente e emocionante defesa do advogado Luis Roberto Barroso, perante o STF, com relação a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7277 e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, em 05/05/2011.

É um post longo nesses tempos de velocidade e micro-mensagens, e para quem preferir ouvir no áudio existe a versão disponível no Youtube. Recomendo, fortemente, que se escute o áudio, acompanhando o texto transcrito.

 

 

Excelentíssimo senhor presidente, ministro César Peluso, excelentíssima senhora ministra, senhores ministros, ministro Luiz Fux, senhor Procurador-geral da República Dr. Roberto Gurgel.

Senhoras e senhores, é sempre um prazer, e uma honra, estar aqui nessa tribuna e poder merecer a atenção de vossas excelências.

Eu espero estar inspirado e a altura da importância desse momento para milhões de pessoas pelo Brasil afora.

Senhores ministros, o que vale a vida são os nossos afetos. O amor e a busca pela felicidade estão no centro dos principais sistemas filosóficos e no centro das principais religiões. A amor à Deus, para quem acredita. O amor incondicional dos pais pelos filhos. O amor dos filhos pelos pais, o amor ao próximo, que é essa bênção apresentada pela fraternidade. O amor próprio, que nos dá paz e segurança no curso da vida. Mas não o amor narcísico, que é o amor que se basta a si próprio. E por fim e por mais importante, o amor apaixonado, que é o amor de um homem por uma mulher, ou de uma mulher por um homem, ou de uma pessoa por uma pessoa.

A vida boa é feita dos nossos afetos. A vida boa é feita dos prazeres legítimos. A vida boa é feita do direito de procurar a própria felicidade.

De modo que o que se pede aqui em primeiro lugar, que esse tribunal declare na tarde hoje, é que qualquer maneira de amar vale a pena. E pronuncie a consequência natural dessa constatação. Ninguém deve ser diminuído nessa vida pelos afetos, e por compartilhar o seus afetos com quem escolher.

O amor homossexual é vítima de preconceito ao longo dos séculos! E eu cito aqui três exemplos emblemáticos.

Em 1521 as Ordenações Manuelinas previam que os homossexuais deveriam ser condenados à morte na fogueira, ter os seus bens confiscados, e duas gerações seguintes da família dele seriam infames.

Outro exemplo, em 1876 Oscar Wilde escreve um poema belíssimo chamado O amor que não ousa dizer o seu nome, em que confessa a sua paixão homossexual. Oscar Wilde foi condenado a dois anos de prisão e a trabalhos forçados em razão dessa poesia e de sua orientação sexual. [nota 1]

E um terceiro exemplo. Na década de [19]70, um soldado [norte-]americano condecorado na guerra do Vietnã assume a sua homossexualidade e é sumariamente desligado das Forças Armadas e produz uma frase antológica. Por matar dois homens, recebi uma medalha. Por amar outro, fui expulso das Forças Armadas.

Essa é, senhor presidente, senhores ministros, a história de um preconceito que vem ao longo dos séculos. Mas a história da civilização é a história da superação dos preconceitos. E a cada momento histórico as pessoas tem de escolher de que lado vão ficar da história. Se vão avançar o processo social e incluir todos, ou se vão parar o processo social e cultivar o preconceito.

De modo que é possível decidir essa questão olhando para trás, onde se avistam milhões de judeus que foram massacrados em campos de concentração. Milhões de negros que foram transportados a força em navios negreiros. Mulheres que atravessaram os séculos oprimidas moral e fisicamente pelas sociedades patriarcais. Deficientes que foram sacrificados. Índios que foram dizimados.

Em cada fase da vida, em cada fase da história existe sempre uma racionalização para justificar o preconceito.

Mas é possível também julgar essa matéria olhando para frente, e não para trás. Olhando para a criação de um mundo melhor, de uma sociedade mais justa, de um tempo de fraternidade, de um tempo de delicadeza.

Um tempo em que todo amor possa ousar dizer o seu nome.

E portanto senhor presidente, senhores ministros, essa é uma tarde de gala para esse tribunal, porque ela representa a possibilidade de uma virada histórica, de superação, de um preconceito. E o mundo nos contempla ansiosos pela decisão que será proferida por esse tribunal.

Passo aos fundamentos jurídicos do pedido do senhor governador do estado do Rio de Janeiro.

Não sei ressaltar [o quanto é] corajoso pedido do governador do estado do Rio de Janeiro, que se dispôs a propor essa ação quando nenhum dos legitimados àquela altura havia ainda se habilitado. Correndo todos os riscos políticos de um agente eletivo para defender uma tese, uma tese que é a tese de defesa das minorias. Mas certamente sabia o governador, como na frase feliz de Amyr Klink, “na vida, o maior naufrágio é não partir“. E portanto sua excelência ousadamente propôs essa ação que se fundamenta nas seguintes visões de mundo que compartilho com vossas excelências.

Primeira, a homossexualidade é um fato da vida! É uma circunstância pessoal. É um destino.

Segundo lugar, porque existe a orientação sexual homossexual existem as uniões homoafetivas porque as pessoas tem o direito de amar, e tem o direito de compartilhar seus afetos.

Mas a ordem jurídica não contém uma ordem específica que cuide das uniões homoafetivas. E é por isso que se está aqui, nesse tribunal, e o governador do estado do Rio de Janeiro pede a vossas excelências que reconheçam que as uniões homoafetivas devem ter o mesmo regime jurídico das uniões estáveis convencionais. E isso por duas ordens de razão. Um: porque um conjunto impressionante de princípios leva a essa constatação. Dois: por simples analogia.

E passo, senhor presidente, a deduzir, brevissimamente, quais são esses princípios.

O primeiro deles, por óbvio, o princípio da igualdade. O princípio da igualdade explica que as pessoas tem direito a igual respeito e consideração. Significa que as pessoas tem o direito de serem reconhecidas na sua identidade, ainda que representem minorias. Ora bem, os pressupostos de uma união estável homoafetiva são rigorosamente os mesmos de qualquer união estável: o afeto e o projeto de vida em comum. De modo que não reconhecer as mesmas consequências dessas uniões homoafetivas significa depreciar essas pessoas. Significa dizer que o afeto delas vale menos, e que o estado não precisa reconhecer e respeitar as suas relações, e pode tratá-las com desprezo. Isso viola o aspecto mais essencial da ideia de igualdade de as pessoas não serem discriminadas por um fundamento fútil, sem um fundamento razoável.

O segundo princípio é o princípio da liberdade. As uniões homoafetivas e a homossexualidade são fatos lícitos. A liberdade em sentido geral significa fazer poder fazer aquilo que a lei não interdita. E a liberdade, na sua dimensão mais nuclear, é a autonomia privada. É o direito de cada pessoa fazer as suas valorações morais e fazer as suas escolhas existenciais. O Estado não tem o direito de interditar o direito fundamental de uma pessoa de escolher uma pessoa maior e capaz, duas pessoas maiores e capazes, escolherem onde vão colocar o seu afeto e o caminho que querem percorrer para a sua própria felicidade.

E o terceiro princípio é o princípio da dignidade da pessoa humana, já lembrada pelo Dr. Gurgel, que na sua expressão mínima, compartilhada pelo mundo, significa que ninguém nesse mundo deve ser tratado como meio para realização dos projetos alheios. As pessoas devem ser tratadas como fins em si mesmas, e consequentemente impedir uma pessoa de colocar o seu afeto e a sua sexualidade onde está o seu desejo é o mesmo que lhe aprisionar-lhe a a alma. É instrumentaliza-la ao projeto dos outros, às metas coletivas… É impedir esta pessoa de existir na plenitude da sua liberdade: de ser, de querer e de pensar. Viola a dignidade da pessoa humana, impedir que ela coloque seus afetos aonde tem o seu desejo, e seja respeitada por isso.

A outros princípios como da segurança jurídica, mas eu preciso ir adiante, para dizer que ainda que não fosse pela aplicação direta desses princípios, dever-se-ia aplicar o mesmo regime da união estável à união homoafetiva por simples analogia. Não há norma expressa na Constituição, não há norma expressa na legislação ordinária portanto há uma lacuna normativa. A jurisprudência tem, então, esse lado: alguns acordãos entendem que deve se tratar como uma sociedade de fato e outros acordãos entendem que deve se tratar como uma união estável.

Uma pergunta muito simples: duas pessoas que cometem a sua vida num projeto afetivo, um projeto de vida em comum, elas estão numa sociedade de fato, como uma barraca na feira, ou elas estão em uma união estável, com um projeto de vida em comum, uma unidade familiar? Só um preconceito mais inconfessável poderá deixar de reconhecer que a proximidade, a analogia maior, é com a união estável.

Torna-se crucial aqui enfrentar o artigo 226 parágrafo 3º da Constituição, que diz, “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar”.

Esse dispositivo, senhores ministros, como saberão, foi o ponto culminante da emancipação das mulheres, que eram tratadas como seres inferiores quando não fosse casadas. A mulher não casada era vítima do preconceito, e esse dispositivo foi a superação dessa discriminação. O tratamento da mulher não casada que vivia conjugalmente com alguém, como os senhores se lembrarão, eu me lembro, era, primeiro, direito algum! Depois, alguns direitos previdenciários. Depois alguns direitos patrimoniais. Até chegar a união estável.

Esse dispositivo é a consagração da emancipação feminina, que passa ter a sua relação conjugal relação conjugal respeita mesmo que não seja protegida pelo casamento. É um dispositivo de inclusão! É um dispositivo anti-discriminatório! Interpretar o artigo 226 parágrafo 3º como sendo um fundamento para discriminar os homossexuais é trair a inspiração dessa norma. É trair o espírito da norma. É trair o fim da norma. É mais ou menos como condenar alguém com base na lei de anistia. É um absurdo completo. Portanto, esse dispositivo está aqui para incluir as mulheres, e não para excluir os homosexuais e as relações homoafetivas.

Das quais o constituíte não cuidou, e por essa razão nós precisamos resolver essa questão com base nos princípios constitucionais ou na analogia.

Alguém poderá dizer que esta é uma matéria que deveria ser solucionada pelo legislador ordinário, pelo Congresso, e não pelo Supremo Tribunal Federal. Seria um equívoco rematado pensar isso. É claro que o legislador pode disciplinar a matéria desde que não viole o direito fundamental. Mas em nenhuma democracia do mundo o direito fundamental de negros, de mulheres, de homessexuais pode depender do processo político majoritário. As minorias são protegidas é por tribunais constitucionais. Peja jurisdição constitucional. Por juízes corajosos que dizem ao processo político majoritário [que] mesmo que vocês não estejam respeitando essa minoria nós, em nome da constituição, impomos o respeito a elas.

E o respeito a essas minoria significa tratá-las da mesma forma que se trata a união estável.

Eu, antes de encerrar, gostaria de dizer uma palavra que considero muito importante, de maior respeito e de maior consideração, às pessoas que por convicção religiosa, ou por qualquer outro fundamento legítimo não compartilham das ideias que eu aqui estou sustentando nessa tribuna. E não tenho eu aqui a pretensão de mudar a convicção nem a fé de qualquer pessoa. O que faz a beleza de uma democracia, de uma sociedade plural e aberta é a possibilidade de convivência harmoniosa de pessoas que pensam de maneira diferente. Nos estamos aqui portanto falando tolerância. Nós estamos falando de respeito ao diferente. Mas não de abdicação de convicções, que cada um merece respeito naquilo que escolheu professar.

E aqui concluo, senhor presidente, com o argumento que me parece o mais importante de tudo o que eu lhes disse, disse às vossas excelências até aqui, que é a regra de ouro: “Faz aos outros o que deseja o que te façam“.

Eu tenho, como alguns dos senhores saberão, um filho de 12 anos. Que está entrando na puberdade. Minha mulher e eu o educamos dentro de uma cultura convencional, dentro de uma tradição heterossexual, porque o humanismo não existe que seja hipócrita. E portanto a vida, integrando as maiorias, é um tanto mais fácil. Porém, senhor presidente, senhores ministros, se a vida, pelos seus desígnios, levasse o meu filho por um caminho diferente, eu gostaria que ele fosse tratado com respeito e consideração.

Com igual respeito e consideração.

E que fosse acolhido pelo ordenamento jurídico. E que pudesse viver em paz. Em segurança. E ser feliz.

E se é isso que eu desejo para o meu filho, evidentemente é isso que eu devo desejar para todas as pessoas. Essa é a regra de ouro. Que está no coração do judaísmo, que está no coração do cristianismo, na ética kantiana, na boa fé objetiva, e é a única forma de se fazer o bem.

Por essas razões, senhor presidente, o governador do estado do Rio de Janeiro pede à vossas excelências que acolham o seu pedido e que permitam que no âmbito da administração pública do estado do Rio de Janeiro as uniões homoafetivas e as uniões estáveis sejam tratadas com igualdade.

Muito obrigado.

 

 

Notas

Todas o grifos e sublinhados são meus, assim como em grande parte a presença (e omissões) de exclamações.

[1] Em verdade, a frase final de um poema chamado Two Loves, de 1984, cuja famosa frase aparece no julgamento, ao qual Wilde responde inspiradamente, mas que nada ajuda no seu caso.

As palavras aqui são “resultado fiscal”

Pessoal, deixe-me apresentar um gráfico que vocês não verão em nenhum outro lugar.

2010-11-29-resultado-e-juros-governo-central

Claro, que o gráfico acima exige alguma explicação. Como brasileiro atípico que sou, eu recebo o boletim do Resultado do Tesouro Nacional, que apresenta, entre várias outras coisas, séries históricas de receitas e despesas do governo, de uma forma despudoradamente simples, para não dizer cruel.

Em particular, as séries do Resultado Primário lançam todas as principais receitas e despesas do governo, com especial destaque as alguns nomes muito conhecidos: impostos, Previdência Social, folha de pagamento… Até mesmo a receita da recente capitalização da Petrobrás, frequentemente lembrada como um artifício atípico injetado na receita do governo aparece lá, em uma rubrica separada!

Enfim. No gráfico acima só coloquei duas das séries do Resultado Primário, que não por acaso são as últimas do documento, apresentadas em separado: Juros Nominais e Resultado Nominal do Governo Central.

“Nominal” aqui significa o número cru. Nada de ajustes inflacionários. Receita é dinheiro depositado, despesa é dinheiro sacado, pura e simplesmente [1]. Ao se desenhar esses números diretamente, o que se obtém se parece mais com o resultado de um terremoto num sismógrafo que o curvas de forças econômicas complexas. Por conta disso, apliquei uma simples normalização: soma aritmética dos últimos 12 meses. Os dados começam em Janeiro/1997, mas o meu gráfico começa em Dezembro/1997, primeiro mês com um ano fechado. Todos os meses seguintes, portanto, apresentam o fechamento de anos “virtuais”, mês a mês.

Se ainda não expandiu o gráfico, eis um bom momento. A primeira informação nítida que se tem é que o governo é quase sempre deficitário. Além de deficitário, pode se ver claramente a altíssima correlação entre a curva da despesa de juros e o respectivo resultado final. Nenhuma novidade, afinal os juros entram no cômputo do resultado [2].

Ainda assim, observem que algumas outras coisas saltam aos olhos, num segundo relance. Ao contrário do que se imaginaria, os juros não sobrem em escalada geométrica, como poderia se esperar de uma entidade sempre deficitária.

Mais que isso, o gráfico acima mostra que o Resultado Nominal chega a ser positivo em um ponto (Outubro/2008, R$ 24 milhões). Esse ponto, em particular, é muito interessante [3], mas não é o mérito da questão que eu quero levantar. Lembro de novo que o gráfico é uma soma simples dos últimos 12 meses. Assim, caso tivesse-mos o hábito de fechar contabilidade o ano em Outubro, ao invés de Dezembro, provavelmente teríamos mais uma comemoração “nunca antes nesse país”, por conta de um ano de superavit nominal.

Repitam comigo: Brasil, superavitário nominal.

Para quem a expressão acima faça profundo sentido, das duas, uma: ou acha que eu estou delirando ou já está baixando os dados linkados acima para conferir isso que eu falei. Para quem não entendeu, uma palhinha: Os fechamentos de Janeiro/2006 a Outubro/2008 mostram um governo brasileiro impossivelmente incomum, na nossa história recente. Um país que apesar de deficitário ainda vê o componente juros “maquiavélico-capitalista-com-mortes” paulatinamente diminuído com o tempo, ao mesmo tempo que o resultado primário rapidamente vai se convertendo em resultado nominal positivo, numa guinada com ares de curva geométrica. Ou em palavras mais diretas, o País do Futuro de fato virou o País do Presente naquele fatídico fechamento contábil no já longínquo Outubro de 2008.

“Tá”, se perguntarão todos, “mas porque isso não foi comemorado?”. Bom… eu ofereço duas respostas, ambas relacionadas a esses meses em particular.

A primeira resposta, e a mais conspiracionista, é que simplesmente não havia espaço na grande mídia para outra coisa que não fosse a já então tenebrosa crise do sub-prime. E não era por menos, dado que essa bagunçada toda ainda nos assombra, mesmo já tendo 2 anos.

A segunda resposta, bem mais caridosa, é que não havia o que se comemorar, de fato. Ou se comemorado, seria uma celebração pífia, porque a crise em evidência ia destruir esse resultado logo a seguir. “Dãh”, dirão todos, “é só olhar os governos da Europa pedindo caneco um atrás do outro para ter uma noção disso”. Sim, e ainda assim, peço novamente que olhem o gráfico acima. Uma coisa é olhar a experiência alheia, mas ai em cima aparece bem nitidamente o efeito que a crise causou em nós, brasileiros.

De Outubro/2008 a Outubro/2009 o que vemos no gráfico é a deterioração do resultado do governo. Mais que isso, podemos ter uma boa noção que muito dessa deterioração ocorre nos componentes da receita mais que nos componentes dos juros. E independente da origem, a queda é certa, é direta, e é fulminante. E, acreditem-me, essa drástica queda é realmente muito leve se comparado ao que foi e está sendo visto nos países da zona do euro.

Talvez isso que não seja tão intuitivo. Mesmo porque é necessária uma perspectiva histórica enorme para entender que os países se metem em confusões no mercado financeiro principalmente por problemas de receita que (comparativamente) problemas de despesas ou juros.

Falei de persistência, mas um outro fator bem anti-intuitivo é o efeito “delay”. Notem que a crise já estava escancarada meses antes de Outubro/2008, e mesmo assim o resultado do governo progrediu. O mesmo vale no sentido inverso. Mesmo com a economia brasileira dando sinais de crescimento no começo de 2009, ainda assim os efeitos nos resultados levaram meses e meses até se inverterem novamente.

Esse parágrafo último nem estava planejado no meu post original, mas conversando sobre esses dados com um amigo ele me pediu um exercício de futurologia deveras específico, no caso, a minha opinião se o atual governo vai ou não cumprir a história de zerar o défict público em 4 anos, mesmo contra o ceticismo de todo mundo [4]. E depois de pensar um tanto, lembrar daquele isolado ponto não negativo no gráfico, de como o financiamento público brasileiro é bem mais técnico hoje, de como as despesas ainda são um sarapetel político, e que o delay é sim um componente estrutural importantíssimo, respirei fundo e admiti, em voz alta, “Sim, apesar dos pesares, pode funcionar sim.”

Não será fácil, nem será simples. E, ainda assim, tenho lá a convicção que as coisas, ainda que por caminhos tortos, vão ficar melhores.

Tomara!

Notas

[1] Análises históricas e corretas demandariam ajustes de sazonialidade e deflatores por PIB ou inflação. O que só complicaria a análise por tornar os dados indiretos e incrivelmente místicos a muita gente. E é justamente por não ocorrer isso com essas séries que a beleza simples desses dados se mostra muito impressionante, e suas consequências de longo prazo, muito menos questionáveis.

[2] Para exercício dos interessados: ao se subtrair uma curva de pontos aleatórios de uma outra curva de pontos aleatórios, ambas altamente correlacionadas, o que se obtem? :)

[3] Aos grafistas e analistas técnicos de bolsa: e ai, compra ou vende, esse país, olhando para a curva de resultado nominal de Jan/2006 a Out/2008?

[4] Ceticismo justificado, comum e perfeitamente razoável, diga-se de passagem, embora um tanto confuso, no sentido que não está se realizando na sua versão mais descarada. Era mais ou menos isso que eu queria dizer com o “mais técnico”, só que agora aplicado aos resultados finais: Não importa qual seja a expectativa ou o verniz político da questão, os resultados efetivamente ditarão para onde irão os juros e o Brasil, com eles.

E o mundo mudou em uma transição

Àqueles que consultarem o Google a partir de agora o verão um pouco diferente. Mais especificamente, depois de 01:40 de hoje.

Eu, que estava navegando entre resultados de pesquisa nesse momento, tive a chance de presenciar uma pequena grande parte do mundo mudar, literalmente, como num passe de mágica.

Ao clicar no primeiro ‘o’ do icônico jeito gogol de indicar as várias páginas de resultado, a janela redesenhada se apresentou diferente. Mais colorida, mais espaçada, com bordas atenuadas.

Uma sensação de polidez e capricho, ainda que emanando ares infantis, e eis que vejo que o Google realmente mudou todo o esquema gráfico de seu portal mais acessado.

Essa já é a segunda vez que isso ocorre comigo. Em outro ano, navegando pela venerável Wikipedia, me vejo de repende lendo um artigo, até bem feito, em um site parecido com a Wikipedia que eu então conhecia, mas que eu não me lembrava de ter acessado antes. Aba fechada e outro artigo do site misterioso. Demorou mais 4 abas até eu me dar conta que eu continuava a minha navegação no mesmo domínio, mas que o esquema gráfico todo tinha mudado. Como é estranho sentir na pele o triste ditado que fala da inanição de burros e da coloração da grama…

Estranha sensação. Um orgulho bobo de ter visto, no momento do caso, A Mudança, que provavelmente não vai deixar lembrança em bem pouco tempo…

Das aleatoriedades de ter um telefone fixo

Sábado, meio dia, horário dos telemarketing dos bancos ligarem. Fielmente, o telefone toca. Sigh.

– Alô, com quem falo?

– André.

Até aqui, tudo tranquilo, e até pessoal. Mas são só 6 segundos até vir a voz-segue-script que todo mundo que trabalha na área tem.

– Olá. Eu sou da blá-blá-blá valorização cristã blá-blá de Bauru blá-blá num esforço para trazer a tona os valores de Cristo blá-bla…

– De Bauru? São Paulo?

– Isso mesmo, interior de São Paulo!

Interurbano interestadual. É, está mesmo barato falar em linha fixa hoje em dia…

– Então, blá-blá gostaria de saber se a maioria das pessoas da sua casa são devotos cristãos?

Sigh. Primeiro, quem que usa a palavra devoto hoje em dia? Segundo que não tem família na minha casa. Mas já que isso me tirou de My Mom’s on Facebook

– Aqui em casa somos todos agnósticos…

– Agnósticos, o que é isso???

Ah, qualé… Está fazendo ligações sobre temas religiosos para completos desconhecidos na lista telefônica e nem se preparou minimamente das coisas que poderia ouvir. E eu, no ritmo já automatizado de explicar as coisas…

– Agnósticos, sabe… acreditamos que a questão de Deus é indecidível…

– In-den-cin-dí-vel???

Oh. Your. God. Eu estou falando com a Magda, do Sai de Baixo. Sério. A entonação da voz ficouîndêntica! E eu meio que gaguejando de surpresa, meio que segurando o riso, e ainda no ritmo de instrução…

– Indecidível, que não tem como decidir… Assim, existem os ateístas que negam Deus, e existem os relig… erm, os teístas que acreditam, os agnósticos ficam no meio… hun… a gente fica assistindo os teístas e ateístas discutindo…

Ok, isso foi péssimo. Faltaram várias palavras chaves importantes como ‘realidade objetiva’ e outras, mas para aumentar a quantidade de coisas a coordenar na minha cabeça tinha ainda o fato de eu ter tirado ela completamente do script, e eu pensando isso ao mesmo tempo, e a coisa toda numa recursão cada vez mais hilária na minha cabeça perturbada. E eis que minha interlocutora interrompe.

– Ah tá… Tá bom. Olha, eu agradeço a atenção. Obrigada. Tenha uma boa tarde. Tchau.

– Tá, tchau.

Ah… Hein?
Os meus conhecidos se espantam em saber o quanto eu posso ser irrascível com telemarketing, mas essa é a primeira vez que eu espantei alguém sem querer.
Eu juro!

O gogol assustador

Perto da meia noite, vejo a notícia da coleção dos Senhor dos Anéis no Submarino por menos de R$ 50,00. Massa. Aproveitei para olhar mais um pouco e eis que também está em promoção a coleção completa de Harry Potter, essa por menos de R$ 60,00. Massa novamente. Vou comprar para a minha mãe, como tinha prometido a tanto tempo.

Problema. Lembro exatamente a cidade e o bairro da casa dos meus pais, mas apenas vagamente a rua e número. Tentar não custa, e coloco que eu lembro no Google. Primeiro resultado é exatamente que eu coloquei, mas sem muito contexto. Seria um endereço de um vizinho?

O documento se refere a advocacia. Acrescento o nome do meu pai na pesquisa, advogado. E pimba! Consigo confirmar o endereço dos meus pais sem acordá-los tão tarde e sem estragar a surpresa. Vitória dupla.

Enquanto faço o pedido, curioso, mando abrir a versão HTML do documento, para ver que diabos de informação do meu pai foi parar na web. Página em branco. Estranho. Mando baixar o PDF (17Mb?!). Uns minutos depois ele abre aqui. Nem pensei. Ctrl+F e nome da rua. Sem resultado. Ué?. Esc, Ctrl+F, nome do meu pai. Nada.

Hein? Baixei errado? O Google me entregou outro documento? Será que eu mandei o presente para um desconhecido?

Rolo o mouse, passando o olho pelo documento e só aí me dou conta que se trata de maldito PDFde páginas escaneadas.

A !@#$% do Google está passando OCR nos PDFs das internets! Scary thing.

SiSU e o paradoxo da baixas incrições

Ecoou na web: a primeira fase do SiSU foi um sucesso, mas a segunda foi um desperdício. Como entender a enorme quantidade de vagas disponíveis e ignoradas?

Em teoria, uma vaga “praticamente gratuita” numa faculdade pública, num país onde a educação privada é caríssima, nunca seria desperdiçada, certo? Mas vejamos a seguinte situação: o calouro pontua bem no Enem, e consegue uma vaga numa faculdade pública, uma bolsa pelo Prouni, ou outro esquema qualquer, incluindo não fazer nenhuma faculdade no semestre.

Esse é um candidato que bloqueou uma vaga na primeira rodada, utilizando-a ou não. Até aí, nenhuma novidade. É um ocaso esperado, e pouco se pode fazer nesse momento. O problema é que esse mesmo candidato vai continuar bloqueando vagas nas próximas seleções também, com a tendência de que essa parcela de “desinteressados” só aumentem com as rodadas. E a razão pode ser tão simples quanto singela: mera curiosidade, no caso, de saber em quais “outras” faculdades ele poderia ter passado.

Note que estamos falando aqui de um candidato que tem uma boa nota no Enem e que não tem interesse (por qualquer motivo que seja) numa vaga do SiSU. Como separará-los dos candidatos que realmente querem vagas? No melhor estilo do Freakonomics, vamos estudar os incentivos envolvidos aqui.

Primeiro, qual o incentivo de um desinteressado nas vagas de se candidatar? É saber sua posição de qualificação numa dada faculdade. Como só pode se inscrever numa faculdade por vez, ele fará isso em todas as rodadas. A primeira coisa a fazer é acabar com esse incentivo. Mas temos de fazer isso de uma forma justa, sem penalizar (muito) o candidato que realmente quer a vaga.

Antes da solução, vamos notar uma grande diferença entre o aspone universitário e o estudante aplicado: somente os últimos se inscrevem. Note que esse é problema principal aqui, mas nós podemos virar ele do avesso, utilizando-o efetivo a nosso favor. Eis uma singela proposta:

Na primeira rodada nada muda. Os candidatos se inscrevem, sai uma lista qualificatória e a esses é dada a chance de inscrição. Haverá inscritos e haverá não inscritos. E haverá outra rodada.

Nas rodadas seguintes, porém, a regra muda um pouco. Todos aqueles que se qualificaram anteriormente não podem mais se candidatar a vagas, somente aqueles que conseguiram qualificação pela primeira vez. Esses impedidos deixam de receber, também, qualquer informação qualificatória.

Pode parecer uma medida bastante ríspida, mas vagas em faculdades públicas são um recurso escasso e importante para serem desperdiçados. O candidato que se qualifica e quer a vaga vai e faz a inscrição. No esquema acima, ele ainda tem o incentivo adicional de não postergar a inscrição porque é a única chance de ter a vaga garantida, de fato. E os que não querem as vagas deixam de atravancar o processo já na primeira rodada, perdendo inclusive o mecanismo de ficar “explorando” qualificações nas várias rodadas.

Para os casos dos candidatos que realmente querem estudar mas perderam a inscrição por qualquer motivo, uma sugestão adicional: as faculdade ficaram autorizadas a fazer listas de espera para todos os alunos, acima de uma calculada nota de corte. E esse é um ponto importante: fazer a pessoa ir até o local.

Só isso já separa todo mundo que deseja a vaga daqueles que estão só jogando com o SiSU. Que parece ser todo o problema, afinal.

Zen e a arte do e-mail

Acompanhando os itens compartilhados do meu amigo Adam, vi o post do zenhabits.net sobre manuseio da caixa de e-mails, o adequadamente intitulado Email Sanity: How to Clear Your Inbox When You’re Drowning. O texto começa exaltado a paz espiritual que só pode ser alcançada com o vislumbre de uma Caixa de Entrada vazia, e foi escrito justamente por conta de um pedido de ajuda que dizia “socorro, estou afogando em e-mails”.

Parece paradoxal, mas tenho a impressão que são os usuários “experientes” que mais sofrem desse mal, essa síndrome que é uma versão contemporânea das pilhas de fitas cassete, estocadas no fundo de um armário mofado: gravadas, mas nunca assistidas. E é pior com os e-mails, claro. Com as fitas de vídeo, havia limitações físicas/financeiras/espaciais para estocar continuamente. A sacada magnífica do Gmail, em vencer a competição das caixas maiores com uma quota que simplesmente cresce indefinidamente, acabou por transformar um problema em outro: em vez da limitação de espaço para preservar e-mails, hoje é mais comum bater na limitação humana de tempo de processar esses e-mails.

Eu eu vários de meus amigos heavy users discutimos isso as vezes, trocando figurinhas de como cada um lida com isso. Na sequência pretendo falar um pouco do meu processo, mas antes alguns números reveladores.

Primeiro, que eu tenho duas caixas de e-mails principais hoje (Gmail). Existem outras tantas caixas de e-mail (quatro? cinco?) de provedores antigos, mas que por estarem redirecionadas para as duas caixas atuais, não entram nessa história. Para dar nome aos bois: uma caixa de e-mail é dita “pessoal” e outra é de “listas”. Nesse exato momento, a caixa pessoal tem 14 “conversações” lidas, e um total de 569 na lixeira. A caixa de listas contem 24 conversações no total (lidos e não lidos) e 962 na lixeira. Para ter uma ideia melhor de quantos e-mails eu recebo por dia (em vez do agrupamento do Gmail em “conversações”), eu usei o Gmail Backup para baixar os e-mails individuais, resultando em 8121 e-mails individuais na caixa pessoal e 4225 e-mails individuais na caixa de listas (uma surpresa, pois esperava que a caixa pessoal fosse menos movimentada que a caixa de listas, mas enfim).

Somando tudo, temos ai uma média de 12.000 e-mails por mês, um pouco mais de 400 e-mails por dia. Um volume bem incomum, admito, mas mesmo assim que ainda está na minha zona de conforto.

E eis a expressão chave: zona de conforto. O e-mail tem de ser uma praticidade do dia a dia, literalmente um conforto. Isso é particularmente verdadeiro se o seu trabalho não depender do e-mail. Para os tecnólogos e burocratas o buraco é mais embaixo, mas em teoria ainda é possível aplicar algumas técnicas para evitar o atulhamento. Mas aqui eu vou enfatizar mais a questão dos usuários comuns mesmo, por mais que usuários com 12.000 e-mails/mês não sejam tão comuns assim :)

Depois da longa introdução, eis como eu lido como minhas comunicações eletrônicas:

A caixa da entrada é o meu ‘a fazer’

Ao abrir o e-mail, tudo o que está na caixa de entrada é pendência. Todos os itens não lidos são pendências óbvias, mas todos os itens lidos são, necessariamente, alguma coisa a resolver, a arquivar, a ver depois, que depende de estar em outro local, etc.

Uma caixa de e-mail atulhada é um desestimulo de fazer as coisas. Ter a vista somente o necessário é um dos melhores motivadores para se manter focado em continuar a fazer as coisas, não as deixando acumular.

Nenhum e-mail ficará intocado

Se os itens da Caixa de Entrada são pendências, os itens não lidos são pendências ‘novas’, ainda nem conhecidas. Ao abrir o e-mail, faço a triagem de todos os itens novos de cima para baixo, abrindo os e-mails até zerar o contador. Ter leitura dinâmica ajuda, mas não é a questão aqui ler todos os e-mails agora, e sim tomar uma primeira decisão.

E-mails curtos e pessoais, que não necessitem resposta, são lidos e apagados. Tem de ser um e-mail mais importante para ser arquivado. Mas se não tem resposta e se não tem valor pessoal de preservação, é apagado sem dó. Qualquer e-mail que seja necessário algum procedimento ou resposta mais longa recebe um Marcador apropriado. Se tiver resposta curta e rápida (sem pesquisa adicional), desato a escrevê-la; e-mail pronto, enviado e apagado. E dá-lhe fazer a triagem do próximo e-mail, até só sobrar itens lidos, mas que (agora) sabemos do que se tratam.

O apagar é seu amigo

Meus familiares são pródigos em fazer compras on-lines, se cadastrar em listas de recebimentos de oferta, e depois ficar com a caixa atulhada de e-mails de propaganda não lidos. Que nervo! E-mails de propaganda que não queira ler, abra e apague. E-mails de propaganda queira ler, abra e apague também! Oras… as ofertas de propaganda duram poucos dias, e os webmails da vida mantém os itens apagados pelo menos 30 dias na Lixeira. Todo mundo fica feliz. Sua caixa de entrada fica limpa, você pode caçar as propagandas recentes na Lixeira quando quiser de fato isso e a vida prossegue.

Assuntos graves ficam na caixa de entrada, claro. Mas recebeu um e-mail que respondeu e que é responsabilidade ou interesse de outrem levantar o assunto de novo, então apague assim que responder: ninguém limpa o histórico mesmo, e quando (e se) a outra pessoa responder, ela aparece no seu Inbox de novo para tratar.

Marcadores e labels genéricos

Vários de meus amigos tem tantas tags quanto possíveis, geralmente separando fontes de e-mails diferentes para ler somente daquele assunto de quando em quando. Eu possuo dois e-mails e concentro os e-mails de “leitura em batch” no e-mail “listas”. No e-mail pessoal, uso marcadores genéricos e em baixa quantidade, como uma forma de ter não ter como “escolher muito” e me manter focado. São eles:

A arquivar: Para e-mails com anexos que eu queira preservar em alguma mídia (ou local) específico que eu não estou com acesso no momento. Sim, eu sou um arquivista obsessivo.
A fazer: Lembretes em e-mail de coisas a fazer no mundo real.
A responder: Coisas que exigem pesquisa, que vão demorar a escrever, etc.
A verNSFW e a vida atrás de proxys paranoico-moralistas.
Pendências casa: Coisas que só consigo resolver em casa.
Pendências trampo: Coisas que só consigo resolver no trabalho.

Algumas se misturam, sim, mas são as que funcionam para mim. São poucas, insisto. Seus marcadores devem sempre refletir o deve ser feito, e não como você planeja fazê-los.

Duas contas de e-mail

Essa provavelmente só vale para quem tem um volume tão alto como o meu ou maior (eu mesmo já tive o dobro do volume atual). Uma caixa de e-mail pessoal e uma caixa de e-mail “listas”. A grande sacada aqui é diminuir o serviço de triagem. Todo aquele material que você quer ler, mas que você escolhe a hora de ler e não quer ficar separando das coisas que merecem a sua atenção imediata vão aqui: listas de discussão, e-mails de avisos de comunidades (inclusive Orkut, Facebook, etc), e-mails de contatos de lojas e sites outros.

No meu e-mail pessoal, só tem as pessoas que eu quero falar e uma ou outra comunicação financeira (bolsa de valores). Os desafetos vão para o e-mail “listas”, ou por bem ou por filtros de redirecionamento. Sites de anúncios são redirecionados ou recebem filtros de marcação de spam, também sem dó.

Para quem não tem volume, esse provavelmente é conselho mais inútil.

Backup, backup, backup

Existem dois tipos de pessoas no mundo, aquelas que já precisaram de um backup e aquelas que ainda vão precisar. Como eu usou Gmail na ponta final dos meus e-mails, uso o Gmail Backupmensalmente, quando lembro, e semestralmente necessariamente por conta do backup semestral do meu computador (férias de começo e meio de ano).

O Gmail Backup na verdade é um replicador de e-mails IMAP, e serve em outros provedores além do Gmail, podendo também fazer o servido de transferência de e-mails entre provedores. Fica a dica.

É só por hoje, pessoal

É isso, eu acho.

Nenhum desses procedimentos é particularmente novo, e todos eles já aparecem no E-mail Sanity com uma ou outra mudança (ainda não leu?). De qualquer forma, esses tópicos resumem o que (para mim) são os procedimentos principais que fazem o e-mail ser um prazer e não uma tortura. E, acima de tudo, são coisas que eu faço para manter o e-mail sobre controle, esperando nunca cair na situação de estar “afogado” em e-mails.

Ou seja, são coisas que são particularmente válidas para o meu volume diário, mas que acredito se aplicarem perfeitamente às pessoas com tráfego menor, mas que mesmo assim acabam com caixas de e-mails lotadas. Afinal, independente da quantidade, acabamos “afogados” de mensagens da mesma maneira: um e-mail de cada vez.

E ai, qual o seu jeito de lidar com e-mails?